17 de dezembro de 2008

Como viver 100 anos ou mais

por George Burns 1896-1996 (english)




Cena do filme: "Oh, God!" - Warner Video/1977


As pessoas vivem me perguntando, “George, você está com 88 anos – como é que você consegue? Você faz filmes, tem programas na televisão, dá concertos, lança discos, fuma charutos, bebe Martinis, sai com garotas bonitas – como é que você consegue?

É simples. Por exemplo, um Martini. A gente enche o copo de gelo; aí, despeja nele um pouco de gim e um tiquinho de vermute, adiciona uma azeitona, e o Martini está pronto.

Atualmente, a gente não precisa ficar preocupado em ficar velho. Precisamos é nos preocupar com o enferrujamento. Por isso, eu me exercito e ando muito. Caminhar é até mais fácil que preparar um Martini. Eu ponho um pé na frente do outro pé e aí ponho esse outro pé na frente do outro e, antes que eu me dê conta, eu já estou andando. E a gente não precisa nem da azeitona. Eu caminho dois quilômetros e meio toda manhã. Meu conselho é – caminhe sempre que puder. É grátis, e a gente se sente bem e em boa condição física.

Se quisermos viver até os cem anos ou mais, não podemos ficar sentados à-toa, esperando isso acontecer. Temos que nos levantar e ir ao encalço do que queremos.

Não adianta nos iludirmos. Quando ficamos velhos, diminuímos o nosso ritmo, nos desgastamos um pouco. No momento eu estou com 88 anos. Mas não há nada que eu não possa fazer hoje que não podia fazer quando estava com 18 anos. Logicamente que aos 18 anos eu era digno de pena. E nem era lá muito quente aos 25. eu economizava tudo para agora. Não gosto de me vangloriar, mas sou muito bom no “agora”.

Eis aqui meus outros segredos para uma vida longa:

Pense positivo. Se me perguntarem qual é a coisa mais importante para a longevidade, eu direi que evitar preocupações, tensões e estresses é o segredo. E se não me perguntarem, eu ainda direi a mesma coisa. Preocupação, tensão, estresse não são coisas apenas desagradáveis. Podem encurtar a nossa vida.

Minha atitude é a seguinte: Se algo está além do meu controle, então não tenho com o que me preocupar. E se eu puder controlar a situação, então também não tenho com o que me preocupar. Eu me sinto exatamente assim quando o avião no qual estou começa a balançar e trepidar numa turbulência. O problema não é meu. O piloto ganha uma senhora grana para dirigir o avião – quem tem de se preocupar é ele.

Posso dizer com toda honestidade que não fiquei nem um pouco nervoso com a minha ponte de safena alguns anos atrás. Foi algo fora do meu controle. O negócio era com o médico.

Quando eu acordei da anestesia, o cirurgião me disse, “George, você foi bem, está tudo ótimo.”

Eu disse a ele, “Doutor, eu não estava nem aí – nem um pouco preocupado.”

“Verdade?”, me disse ele, “pois, olha,” continuou ele, “eu fiquei todo escangalhado de tão nervoso.”

E nem isso que ele disse me incomodou. Mas aí, ele me deu a conta – e eu desmaiei.

Mantenha-se ativo. Eu sei muito bem que para certas pessoas a aposentadoria funciona muito bem. Eles a curtem. Sei também que, para muitas outras, a aposentadoria é fonte de uma porção de problemas.

Para mim, o maior perigo da aposentadoria é o que ela pode fazer com a nossa atitude. Quando a gente tem aquele montão de tempo disponível, a gente pensa velho, a gente se comporta velho. E isso é um erro. Eu sei de pessoas que, no momento em que completam 65 anos, começam a ensaiar a velhice. Elas começam a praticar o resmungo assim que se levantam da cama e, tão logo chegam aos 70 anos de idade, já conseguem resmungar muito bem – são um sucesso – se tornaram velhos!

Eu, não. Quando se tem a minha idade, o negócio é manter-se ativo, ocupado. A gente tem que fazer alguma coisa que nos afaste da cama. Eu nunca consegui ganhar dinheiro na cama. Temos que fazer algo que nos mantenha fora da cama – um interesse, um “hobby”, um empreendimento, uma bela garota – epa, olha eu aí outra vez na cama! Mas, na minha idade, deixem eu pelo menos falar um pouco disso.

Aceite desafios. Quando minha esposa Gracie aposentou-se em 1958, eu bem que podia ter-me aposentado também. Mesmo hoje eu não tenho necessidade de ficar fazendo o que faço. Eu não preciso ficar viajando pra lá e pra cá, dando concertos, fazendo filmes, apresentando especiais de televisão, gravando discos de música “country”, sendo um símbolo sexual.

Eu acredito firmemente que a gente deva continuar trabalhando o quanto mais possível. E se não pudermos, devemos procura algo que nos interesse. Não devemos esperar as coisas acontecer. Temos de fazê-las acontecer. Lembremos que não podemos evitar o envelhecimento, mas não precisamos nos tornar velhos, sermos velhos. Eu penso no futuro, pois é no futuro que eu vou passar o resto da minha vida.

Eu sinto pena das pessoas que vivem no passado. Eu sei que era mais barato então, mas a gente não pode ficar olhando num espelho retrovisor – a não ser que queiramos um torcicolo. Se realmente acharmos que a nossa vida acabou e que não temos mais para onde ir, o meu conselho é darmos passadas mais curtas para demorarmos mais a chegar lá.

Eu não vivo no passado. Vivo numa casa em Beverly Hills. É mais confortável. De fato, e você pode não acreditar nisso, eu não desperdiço tempo olhando os velhos registros de minha carreira e nem relendo as velhas críticas – isso já era duro de ler da primeira vez. Acho melhor me apaixonar pelo que faço atualmente. As coisas que fiz ontem, me apaixonei por elas ontem. Mas essa história de amor acabou. Eu sou muito leviano.

Existe um velho ditado: “A vida começa aos 40.” Besteira – a vida começa a cada manhã em que a gente acorda. Abra a mente. Não fique apenas sentado – faça as coisas. Atravesse a nado o Canal da Mancha. Descubra a cura para o resfriado comum. Seja o primeiro a passar sobre as Cachoeiras do Niágara numa cadeira de balanço. As possibilidades são infinitas.

Se tudo o mais não der certo, procuremos fazer alguma coisa para alguém que não está esperando. Vamos ficar surpresos com o quanto isso nos fará sentir bem. Os escoteiros é que estão certos. Muitas foram as vezes em que ajudei uma jovem a atravessar a rua, até a minha casa. Vocês precisam ver todas as minhas medalhas!

O negócio é o seguinte: Com uma boa atitude positiva e um pouquinho de sorte, a gente pode viver até os 100 anos. Isso, uma vez feito, a gente realmente conseguiu, já que muitos poucos morrem com mais de 100.

Tradução livre:
'How to Live to Be 100 - or More'
escrito por George Burns quando tinha 87 anos.